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Jornalista lança livro-denúncia da situação de camponeses perseguidos no Paraguai

  • Writer: sasparqbr
    sasparqbr
  • Apr 23, 2018
  • 6 min read

O jornalista Leonardo Wexell Severo lança na sexta-feira (27), na livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, o seu mais recente livro: “Curuguaty – O combate paraguaio por Terra, Justiça e Liberdade” (Editora Papiro, 100 páginas, R$ 20). Evento também será realizado em maio, na sede do SASP

O jornalista Leonardo Wexell Severo lança no próximo dia 27 de abril, sexta-feira, na livraria Martins Fontes da avenida Paulista, o seu mais recente livro: “Curuguaty – O combate paraguaio por Terra, Justiça e Liberdade” (Editora Papiro, 100 páginas, R$ 20).

Severo esteve na sede do SASP e conversou com o presidente do sindicato, Maurílio Chiaretti, sobre a importância do debate levantado pelo livro. No dia 10 de maio, o autor fará um novo lançamento do trabalho e realizará um debate com arquitetos e urbanistas.

Nesta entrevista publicada pelo site Carta Maior, o autor faz uma análise da campanha internacional pela libertação dos camponeses de Curuguaty, condenados a até 35 anos de prisão por crimes que não cometeram, e do papel da solidariedade, que não considera somente “a mais bela das palavras” como “a única ação capaz de pressionar e fazer com que se faça justiça no país vizinho”. Sem ampliarmos a mobilização internacional, Néstor Castro, Rubén Villalba, Luis Olmedo e Arnaldo Quintana continuarão pagando o preço de terem se insurgido em defesa da reforma agrária e contra a injustiça, acredita.

Depois de quase dois anos, voltas a bater na mesma tecla. Qual a diferença deste com o seu primeiro livro sobre o tema, “Curuguaty, carnificina para um golpe – O povo paraguaio em luta pela democracia e a soberania” (Editora Papiro, 210 páginas)?

O fato é que esgotada a primeira edição do primeiro livro de abertura sobre o tema, me encontrei frente a um dilema. Na publicação anterior, havia sistematizado o que vi e ouvi ao longo dos anos em que participei como Observador Internacional do caso no Tribunal de Sentenças de Assunção, nas marchas, protestos e dezenas de encontros, para denunciar uma brutal injustiça. Agora, havia sido decidida uma pena completamente absurda e era preciso calibrar a pontaria para contribuir na campanha pela libertação imediata das vítimas, fortalecida com o recente projeto de Anistia. Nas palavras da deputada Rocio Casco, autora do projeto, os camponeses são presos políticos, “vítimas da corrupção e do tráfico de influência que dirigiram uma condenação anunciada, num julgamento de hipóteses fantasiosas em que as verdadeiras provas desapareceram”.

Qual foi o principal esforço?

Foi necessário atualizar, de forma simples e direta, o trabalho de denúncia feito em mais de meia década sobre o que ocorreu em Marina Kue, Curuguaty, em 15 de junho de 2012. Ali houve um sangrento confronto provocado por mercenários, por franco-atiradores - com as digitais dos Estados Unidos - que invadiram aquele pequeno acampamento, e que levou à morte de seis policiais e 11 sem-terra e, em decorrência do acontecido, à deposição do presidente Fernando Lugo uma semana depois. Era preciso auxiliar, com mais eficiência, para fortalecer a rede de solidariedade aos camponeses presos, vergonhosamente sentenciados a penas de até 35 anos de cárcere. Como impedir que se perpetue esta terrível barbárie, cometida contra seres humanos cujo único “crime” foi o de lutar pela reforma agrária e conquistar uma terra para plantar e colher?

Havia muitos pingos para colocar nos is.

Como não condenar o atropelamento do rito processual pelo juiz Ramón Zelaya, cujo patrimônio registrou um “extraordinário crescimento” pelas relações promíscuas com narcotraficantes e setores que dominam o negócio ilegal na fronteira, como reconhece até mesmo a imprensa reacionária? Vale ou não lembrar a postura mais do que tendenciosa do promotor Jalil Rachid, cuja intimidade com a família do milionário Blas Riquelme, que se diz proprietária da área em disputa, o fez ser nomeado vice-ministro da Segurança? Como não registrar que, nesse ministério, Jalil foi o chefe direto dos policiais, enquanto ainda faltavam ser ouvidas 80% das testemunhas? E o que dizer da influência da sua tia Leila Rachid, assessora do presidente Horacio Cartes na hidrelétrica de Itaipu? Repercuto as palavras do repórter investigativo, professor da Universidade de Assunção e Prêmio Nacional de Jornalismo, “este é um juízo prostituído, negligente, ilegal e arbitrário, questionado até por organismos das Nações Unidas”.

E como encaixar a campanha pela libertação dos presos políticos junto aos movimentos sindical e popular?

É preciso exortar à reflexão sobre a execrável manipulação feita pelos conglomerados privados de comunicação contra a verdade dos fatos, em prol do latifúndio e das grandes empresas nacionais e estrangeiras. Então, como não denunciar a ação do grande capital por trás do imenso manto de silêncio? E o que dizer da participação norte-americana, com a presença das suas Forças Especiais in loco para treinar as tropas no combate à contrainsurgência, preparando o envio de soldados paraguaios à Colômbia e incentivando a “parceria” para a construção de bases estrangeiras? Sobre este ponto em especial, é esclarecedor o recente “acordo” anunciado pelo governo de Maurício Macri para a instalação, na Argentina, de uma base norte-americana na província de Misiones, na tríplice fronteira com Brasil e Paraguai. A receita de Washington é que abramos mão por completo da nossa soberania e passemos a fazer com que as Forças Armadas se dediquem - se possível, exclusivamente - a combater a banda do narcotráfico que não lhe atende. Ou a CIA pensa em apagar da memória coletiva o tráfico de ópio e heroína na China, com que impulsionava os anticomunistas do Kuomitang na luta contra o exército popular de Mao Tsé-Tung? Os EUA querem simplesmente fazer desaparecer as montanhas de cocaína com que financiaram e armaram os “contras”, no enfrentamento aos sandinistas na Nicarágua? E o papel de meretrício assumido por um parlamento e um judiciário completamente corrompidos, caninamente adestrados ao poder por anos de submissão à ditadura pró-ianque de Alfredo Stroessner (1954-1989)?

O livro denuncia a manipulação dos grandes conglomerados privados de comunicação em favor do grande capital, em particular dos latifundiários, mostra como os seus interesses caminham interligados...

Isto está claro para mim e ficará evidente para o leitor. Nos dias em que os paraguaios relembravam com vibrantes manifestações os cinco anos da carnificina de Curuguaty, as reportagens desviavam o olhar. Destacavam a loucura de mães desesperadas diante de inomináveis tragédias pessoais. Uma senhora que, após acionar a seguradora do carro pelo desaparecimento do veículo, recebeu o corpo do filho, cravejado de balas, confundido com o ladrão. Outra que, enlouquecida, se desfez do bebê, recém-parido, jogando-o nas águas de uma lavadora de roupas. Há um esforço enorme da grande mídia para confundir, desorientar, manipular. Como no Brasil, daí a importância da imprensa democrática, popular, alternativa, que infelizmente veio sendo asfixiada ao longo dos últimos anos em que tivemos muita retórica e tão parcos recursos para enfrentar os nossos inimigos no campo político e ideológico.

Como nasceu este livro?

Este livro nasceu frente a tantos e tão descarados esforços dos vendilhões da Pátria, sabotadores da integração latino-americana, em embutir a descrença na nossa capacidade individual e coletiva de identificação com os demais para conquistar a nova realidade. Ele foi publicado em artigos e reportagens na Revista Diálogos do Sul, nos jornais Hora do Povo e Brasil de Fato, e na Agência Carta Maior. Sem a parceria da nossa imprensa democrática e o apoio do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES), esta empreitada teria sido impossível.

Tens citado bastante o célebre jornalista argentino Rodolfo Walsh, assassinado pela ditadura em seu país. É uma frase em que ele compara pessoas deixadas à margem, da mesma forma que os camponeses de Curuguaty se encontram jogados no presídio de Tecumbú, em Assunção. Poderias repetir a frase?

Tenho dito que é como se Rodolfo Walsh gritasse para a história. O jornalista argentino alertou em “Quem matou Rosendo”: “Para os jornais, para a polícia, para os juízes, estas pessoas não têm história, têm prontuário; não os conhecem os escritores nem os poetas; a justiça e a honra que lhes são devidas não cabem nestas linhas. Algum dia, no entanto, resplandecerá a beleza de seus feitos e de tantos outros, ignorados, perseguidos e rebeldes até o fim”.

O que é Curuguaty, o combate paraguaio por Terra, Justiça e Liberdade?

É uma resposta contundente deste povo irmão, que se empenha em virar a página de submissão e subdesenvolvimento e construir um novo destino. Somando a seu lado, enfrentando os desafios da batalha pela verdade, dei minha modesta contribuição como amigo e companheiro nesta caminhada.

Lançamento do livro

Curuguaty, o combate paraguaio por Terra, Justiça e Liberdade

Dia 27 de abril – sexta-feira – das 18h30 às 21h30

Livraria Martins Fontes – avenida Paulista, 509 – Ao lado da estação de metrô Brigadeiro

Convênio com estacionamento: Rua Manoel da Nóbrega, 88 ou 95.

Primeira hora R$7,00 nas compras acima de R$ 10,00.

Sobre o autor

Leonardo Wexell Severo é gaúcho de Rosário do Sul, colorado e corintiano. Membro do Conselho Consultivo do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé, redator-especial do jornal Hora do Povo, colaborador da Revista Diálogos do Sul e da Agência Latino-Americana de Informação (Alai). Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Federal de Santa Maria-RS, cursou Política e Economia na Escola Júlio Antonio Mella, em Havana-Cuba, sendo pós-graduado em Política Internacional pela Faculdade de Sociologia e Política de São Paulo. É autor dos livros “Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo” (Editora Limiar, 2008), “Latifúndio Midiota - Crimes, crises e trapaças” (Editora Papiro, 2012), “A CIA contra a Guatemala - Movimentos sociais, mídia e desinformação” (Editora Papiro, 2015) e “Curuguaty, carnificina para um golpe - O povo paraguaio em luta pela democracia e a soberania” (Editora Papiro, 2016).

 
 
 

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