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SASP  homenageia Joaquim Pinto de Oliveira Tebas, o negro arquiteto do século 18

  • Writer: sasparqbr
    sasparqbr
  • Mar 22, 2018
  • 4 min read

O Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (SASP) realizou nessa quarta-feira (dia 21) uma homenagem ao arquiteto Joaquim Pinto de Oliveira, conhecido como Tebas, um importante arquiteto do século 18.



Tebas viveu a condição de escravizado durante os seus primeiros 57 anos de vida e se tornou um dos mais destacados construtores da época, sendo o responsável pela construção de importantes obras como a torre da primeira Catedral da Sé e o Chafariz da Misericórdia. Além disso, talhou a pedra de fundação do Mosteiro São Bento e ergueu o frontispício da Igreja da Ordem Terceira o Carmo.


O evento contou com a participação de diversos especialistas e pesquisadores sobre o legado de Tebas, que dissertaram brevemente sobre o viés de sua pesquisa e acompanharam a entrega simbólica do diploma a Tebas, representado por Abilio Ferreira, jornalista, poeta e escritor, e também viabilizador do evento.


O primeiro a falar foi Carlos Gutierrez Cerqueira, pesquisador do IPHAN, e responsável pela instrução do processo de tombamento da Igreja da Ordem 3ª do Carmo, em São Paulo. Explicou como conheceu Tebas, durante o processo de tombamento da Igreja citada, e que ele era visto como ma figura lendária, mais do que de carne e osso. Tebas atuava com cantaria, uma novidade na São Paulo do século 18, que prioritariamente existia de lama e taipa. Interessante o processo de Tebas, que, criado em Santos, no litoral, manteve em seu trabalho essa raiz ao conseguir dialogar com os materiais que não existiam em São Paulo, e tinham que ser sempre trazidos de Santos, como a cal. O debate se deu de maneira muito leve, como uma roda de conversa, com frequentes comentários e inserções de todos os convidados.


Emma Young, pesquisadora estadunidense, doutoranda na Universidade de Nova York, autora do artigo “Tebas e o Chafariz da Misericórdia - água e vida urbana na São Paulo do século XIX” (que será apresentado na conferência Novas Perspectivas em História Ambiental no dia 14 de abril na Universidade de Yale), arrancou suspiros da plateia ao apresentar o seu estudo, que conecta, sob um viés sócio espacial, o desenvolvimento da distribuição da água em São Paulo e a questão da exclusão/inclusão racial. Segundo ela, impossível seria analisar a história da água na cidade sem falar de Tebas.


O abastecimento de água tem tudo a ver com a produção social do espaço, como por exemplo o fato de os chafarizes e fontes de água, já no século 18, serem pontos de policiamento ostensivo e matéria de discriminação racial, e também, a questão da distribuição da água que mostra que enquanto alguns eram privilegiados com o processo positivista da época com o encanamento, outros eram obrigados a matar sua sede em bicas consideradas ilegais. Segundo Emma, a questão ambiental deve ser analisada como assunto profundamente político, como pode ser comprovado em seu trabalho.


Em seguida, Ramatis Jacino, professor do Bacharelado em Ciências Econômicas da Universidade Federal do ABC, autor do livro "O branqueamento do trabalho" (Editora Nefertiti, 2008) e do artigo "Tebas e o legado africano na produção da riqueza e na urbanização paulistana” (a ser publicado este ano), falou sobre a importância de que essas iniciativas, como o estudo sobre Tebas, sejam populares, que saiam do olhar da elite, acadêmica. “Neste cenário de golpe, de supressão de direitos, ações populares como a que transformou o 20 de novembro numa data de celebração e luta, em oposição ao que queria a narrativa das elites, o 13 de maio, por exemplo, é importantíssimo!” . Completou sua fala colocando a visão de que Tebas não foi uma excessão em seu tempo. Ele fez parte do grande grupo de africanos, que vieram ao Brasil escravizados, e contribuíram com o desenvolvimento do país com seu talento, sua formação e seu trabalho, inviabilizado naturalmente. Essa riqueza foi constantemente apropriada pela metrópole, e pela elite, que utilizou e ainda utiliza dispositivos legais do Estado para excluir os negros e a população pobre, à época, escravizada e em processo de libertação.


Sua tese afirma que não foi apenas um processo de abandono, mas sim a exclusão deliberada que abortou toda possiblidade de integração e inserção social do negro à sociedade. Para ele, “a pesquisa Tebas é um trabalho subversivo”.


Wagner Ribeiro, jornalista, pesquisa a mais de 15 anos a vida e a obra de Tebas. “O mito Tebas foi uma concepção dos próprios historiadores, não foi uma coisa que veio só do povo”, afirmou, ao apresentar autores que representaram o construtor em obras de ficção e alimentaram essa ideia de mito, chegando até a questionar se ele era mesmo negro. Wagner tem uma vasta pesquisa, com dados e documentos e com ela busca quebrar esses mitos e alimentar uma linha do tempo da vida de Tebas que chega até seus descendentes. Ele está disponibilizando sua pesquisa como material ao Grupo de Pesquisa Tebas.


Associação e grupos de pesquisa sobre Tebas

O SASP também reconheceu Tebas como arquiteto, tornando-o, simbolicamente, parte de seu quadro associativo. Maurílio Chiaretti, presidente do SASP, explica os motivos da sindicalização simbólica do arquiteto: “Esta é uma das primeiras homenagens que o sindicato faz, na intenção de resgatar a história para reconstruir um futuro melhor. Entregamos o título de Sócio Honorário ao Tebas, por sua importância para nossa cidade e nossa profissão. Quando pensamos em nossa profissão, esquecemos que quase 90 por cento do que é construído por aqui não passou pelas mãos e pelo conhecimento de um arquiteto. A arquitetura, quase nunca chega à população que mais precisa dela. A despeito disso, sabemos que o que se constrói é muito pelas mãos do povo brasileiro, do trabalhador, maioria negra. A desigualdade relega para quem constrói as piores partes da cidade. Este ato que estamos fazendo aqui agora, ressignifica a arquitetura e a construção da cidade nesse sentido.”


Durante o evento também foi constituído um grupo para realizar estudos e pesquisas sobre esse importante personagem da história brasileira.


Para participar do grupo, basta enviar um email para: gp.tebas@gmail.com ou solicitar participação no grupo "GP Tebas".


Segundo o escritor e jornalista Abilio Ferreira, estudioso de Tebas, o grupo visa propiciar novas informações sobre o arquiteto e viabilizar o andamento desses estudos.




 
 
 

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