Quem é o invasor?

A região denominada Pós-Represa [localizada em Americana, interior de São Paulo] representa aproximadamente um terço de nosso território, onde estão patrimônios de dimensões nacionais convivendo com o plantio da cana; infelizmente lá realizou-se, por anos, sua queima e há décadas pulveriza-se agrotóxico de avião.

O plantio não respeita limites e até, recentemente, via-se cana quase dentro de represa. Hoje verificamos a erosão laminar que avança a cada entressafra, assoreando as nascentes, o Córrego Jacutinga e, consequentemente, o Piracicaba, onde captamos nossa água, com material contaminado.

Nessa região há ilhas de prosperidades. Uma dela trata-se do Assentamento Milton Santos, modelo de sucesso realizado pelo INCRA, vizinho, com uma área de 72,6 ha que pertence ao INSS (conforme matrícula) e que foi invadida pela a Usina, que arrenda as terras lindeiras de um latifundiário.

Desde do dia 22 de dezembro, as famílias do Assentamento Roseli Nunes decidiram ocupar essa terra e abrir diálogo com o INCRA e o ITESP para promover células de produção orgânica, seguindo a experiência do outro assentamento (o Milton Santos), mas para tanto vão precisar realizar testes de fertilidade e contaminação do solo para conseguir o difícil selo de autenticidade da produção.

A terra, de cor vermelha para a roxa, de alta fertilidade encontra-se totalmente comprometida e sua recuperação demorará anos. A Usina resiste na justiça à ação dessas famílias e com uma autoconfiança refinada nos seus aliados que legalizam seus atos em várias esferas governamentais.

O atual Plano Diretor da região está precisando de regulamentação e será um bom momento para debatermos a real necessidade de nossa população e a prosperidade econômica para gerações futuras, mas o tempo urge.

Como arquiteto e urbanista, costumo comparar as cidades com corpos humanos e o que aparenta ser um pequeno tumor em uma área pouco utilizada de nosso corpo urbano está atingindo lentamente nossas veias e artérias, silenciosamente contaminando o sangue e o oxigênio desses corpos. E nossos anticorpos estarão morrendo aos poucos.

O latifúndio, a monocultura, o monopólio e seus responsáveis são o câncer e a ocupação familiar, o parcelamento que motive todas as atividades produtivas e a diversidade de culturas a sua cura.

Victor Chinaglia

Arquiteto-urbanista. Diretor do SASP. Ex- Secretário de Planejamento e de Meio Ambiente de Americana.

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