A DIMENSÃO SOCIAL DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: Qual a função – de fato – da academia?
- sasparqbr
- Oct 27, 2017
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Amanhã (dia 28/20) o SASP recebe uma roda de conversa com lideranças de movimentos sociais, a partir das 13h30. Ação faz parte do Seminário Internacional “A Dimensão Social da Formação Profissional”
O Seminário Internacional “A Dimensão Social da Formação Profissional - após 47 anos do “Taller Total” na FAU - UNC, 1970-75” tem por princípio a proposta pioneira de ensino manifestada em Córdoba, Argentina, em meio à ditadura militar, bem como ensaios semelhantes no Brasil e América Latina. Essa experiência tem como base o caráter prioritariamente social da profissão, o ensino por meio da prática e da gestão democrática e participativa. Em suma, propõe uma postura do profissional que confronte os limites da ciência e da consciência, buscando reconhecer e valorizar outras formas e conteúdos de saberes e romper com a formação operacional, clássica e elitista que a academia se baseou desde a sua origem.
De fato, existe uma forma teórica e uma prática da academia, que remontam um mundo teórico e prático que a mesma estuda e, por consequência, recria. Esses mundos abstratos absorvem uma finalidade em si mesmos, por interesse de seus criadores e para a continuação da sua existência. Muitos trabalhos acadêmicos, especialmente na área de humanas, acabam servindo para a produção de mais trabalhos acadêmicos, não apresentando relevância para a sociedade.
Qual serviço poderia prestar uma academia como essa?
O ciclo vicioso da produção da ciência e do conhecimento acadêmico produziu formas, metodologias, dados, informações, imagens, linguagens, vocabulários e uma moral e comportamento específicos para esse “estrato” social de cientistas diplomados, resultando em uma bibliografia pouco compreensível para o restante das pessoas. Afastou, com isso, a ciência e o conhecimento como algo natural e inerente ao ser humano em convívio social.
Procurando romper com as barreiras que separaram as formações profissionais acadêmicas das formações profissionais de vidas não acadêmicas - e a fronteira ator versus espectador recorrente nos congressos científicos - o último dia do evento vai reunir, em uma roda de conversa, público presente e convidados que falarão de como a vida e os seus desafios são, em si, pedagógicos e geradores de ciência e conhecimento necessários para a sustentação da própria vida planetária, construindo cidadania e garantindo direitos.
Nesse mote, serão exploradas as formas de ciência que revelam um sentido existencial humano e coletivo latente, questionando os paradigmas acadêmicos e de classe e buscando resgatar a consciência para a produção de uma ciência cada vez mais responsável, humana, cidadã e universal.
O sábado será um dia sem ator e expectador, sem professor e aluno, como contribuição para o fortalecimento do diálogo entre a academia e a sociedade.
PROGRAMAÇÃO DO DIA 28/10
Benedito Roberto Barbosa (Dito)
Possui graduação pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Atua como advogado na área de Direito à Moradia e Direitos Humanos. É colaborador no Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, membro fundador da União dos Movimentos de Moradia de São Paulo e militante na Central de Movimentos Populares.
A questão da pedagogia de aprendizagem e construção de saberes formuladas por meio das ocupações. A importância dos Movimentos de Moradia na contribuição para o planejamento radical e insurgente, promovendo valores de uso ao espaço em oposição aos valores de troca, na luta pela reforma urbana.
“(...) as lutas dos Sem Teto do centro de São Paulo, num processo sistemático e pedagógico de confronto com o capital imobiliário e poder público, têm ocupado a cena, influenciaram as políticas públicas de habitação e estabeleceram uma nova agenda em torno do direito à cidade e da reforma urbana.” (Barbosa, 2014)
Patrick Dieudonne
Patrick Dieudonne é cineasta e jornalista haitiano. Veio para o Brasil pesquisar as divergências das etnias raciais e a história dos refugiados. Ficou quatro anos estudando para o filme “Caminho do Refúgio”, suspenso neste momento pela falta de recursos para a sua concretização.
A importância da produção cultural crítica para a formação da consciência cidadã, humana e planetária. A atuação da força-tarefa do exército brasileiro no Haiti e apresentação de parte de sua produção cinematográfica.
“As únicas pessoas que realmente mudaram a história foram os que mudaram o pensamento dos homens a respeito de si mesmos”.
“Não há nada melhor do que as adversidades. Cada derrota, cada mágoa, cada perda, contém sua própria semente, sua própria lição de como melhorar seu desempenho na próxima vez”.
Para saber mais:
MNPR
O MNPR - Movimento Nacional de População de Rua começou a se organizar a partir da chacina da Praça da Sé (2004), massacre da população de rua ocorrido na região central de São Paulo, e se consolidou a partir do 4º Festival de Lixo e Cidadania (2005) em conjunto com o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis; O MNPR se estabeleceu a partir dessa participação organizada em várias cidades brasileiras, como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Cuiabá.
O lado humano e consciente da população em situação de rua. Um relato crítico sobre as dificuldades e os enfrentamentos dessas pessoas na cidade e sociedade a que pertencem. A desconstrução do modo desvirtuado que aparecem na imprensa, na academia e em grande parte do pensamento moral. Sua organização coletiva em lutas, conquistas e projetos futuros.
“Gente, ele tinha apenas 6 reais! Nada no banco, nada em bens materiais, nada. E dividiu o pouco que tinha. Eu realmente fiquei estarrecida, eu faço caridade desde sempre, mas nunca dei tanto como esse senhor”, apresentadora Isabella Fiorentino, em entrega de lanches em São Paulo, quando morador de rua deixou R$2 dos seus R$6 para contribuir com a ação de caridade.
Georges Edgar Walukonka Bampale
Georges Bampale, natural da República Democrática do Congo, é refugiado político no Brasil. Criou a ONG CASJIR - BRASIL (Centro de Assistência Social e Jurídica aos Imigrantes e Refugiados do Brasil), após trabalhar em centro de distribuição perto do aeroporto de Guarulhos, SP, onde, junto com mais de 25 imigrantes e refugiados, operava em regime, considerado por eles, de trabalho escravo, sendo chamados de “burros” e “macacos”, devido a situação de vulnerabilidade social do refugiado, pela falta de conhecimento na língua e de seus direitos humanos.
A situação dos refugiados e imigrantes no Brasil e as razões que os levaram a sair de seus países de origem. A relação entre a revolução tecnológica, a globalização e as atuais guerras civis e diplomáticas, especialmente sobre muitas das mercadorias hoje consumidas sem o conhecimento do lastro completo de sua produção, como os celulares, tablets e notebooks. Os direitos humanos no mundo e no Brasil. A consciência da cidadania planetária como fundamento para a formação humana e profissional, para a consolidação de Estados democráticos e a garantia de direitos.
“Eu como refugiado político referente à vida que eu levava no meu país, fiquei um pouco triste pela falta de conhecimento do mundo do povo brasileiro. Por isso hoje a gente está querendo facilitar, para evitar as perguntas que o povo brasileiro faz pra gente, falando - o Congo é vizinho de Paris? Israel é capital da África? O povo brasileiro tem isso na cabeça que a África é um país. Então a gente tenta ajudar. Sou palestrante hoje, faço palestras dentro de universidades, das empresas também, ajudando os brasileiros a entender quem são os imigrantes. Porque isso não é culpa dos brasileiros, é falta de informação. Porque quando você não conhece os imigrantes, como tratá-los bem?”
União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES)
Representantes da União Paulista de Estudantes Secundaristas, idealistas e preocupados com os rumos da educação em São Paulo e no Brasil. Há 69 anos lutam pela conscientização das desigualdades e outros problemas econômicos vividos no país. Atuam pela Reforma Urbana, a Reforma Agrária, a Reforma Universitária e a Reforma da Saúde. Estiveram presentes nas últimas ocupações na Câmara, na ALESP e nas escolas contra o desmonte do ensino público. Lutam por uma educação gratuita e de qualidade.
O que levou os estudantes à ocupação de mais de cerca de mil escolas secundaristas no Brasil no ano de 2016, e uma página de facebook (“Não fechem minha escola”) com mais de 45.000 curtidas?
Debate sobre as operações maniqueístas do governo do estado de SP na tentativa de privatizar as escolas públicas.A CPI da merenda. As experiências da escola livre, aberta e participativa durante as ocupações e a inserção urbana da escola na cidade e na comunidade. As aulas públicas e transdisciplinares e a dimensão social na formação de base.
“Apesar de todos que tentaram calar a voz dos estudantes, a UPES sempre conseguiu achar uma nova maneira de superar os desafios colocados. Quando olhamos para a história da entidade, notamos que a luta e a garra de milhares de estudantes valeu a pena, e quando cada um de nós, atuais dirigentes da UPES, acordamos e iniciamos mais um dia de luta, vislumbramos que a perspectiva de construção de um sonho ainda vive”, afirma Arthur Herculano, atual presidente da UPES.
Ocupação Mauá
Integrantes da Ocupação de famílias de baixa renda em edifício localizado na rua Mauá, antigo hotel que encontrava-se há vinte anos abandonado no centro da cidade de São Paulo. A “Ocupação Mauá” é objeto de um processo de desapropriação por interesse social que, no entanto, culminou em reintegração de posse, marcado para outubro deste ano
A ocupação e a formação cotidiana da consciência coletiva. A luta por políticas públicas de moradia alinhadas ao empoderamento, à cidadania e aos direitos. A experiência da escola de alfabetização de jovens e adultos Carolina Maria de Jesus e a relação com a cidade. Lutar contra o abandono e a supervalorização da propriedade privada e as injustiças do poder judiciário brasileiro, construir políticas públicas de Estado e garantir moradias para população de baixa renda, como continuar?
“Você ter para onde vir, sair e voltar, ter onde descansar e batalhar pelo seu pão de cada dia, isso se torna digno para a gente, ter nossa própria identidade. Quer dizer, a nossa moradia é a nossa identidade”, Maria Elizete Barbosa Souza, moradora da Ocupação Mauá.
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