top of page
Search

Arquitetura: refúgio e solidariedade

  • Writer: sasparqbr
    sasparqbr
  • Jun 20, 2017
  • 3 min read

Na data em que se comemora o Dia Mundial do Refugiado, convém lembrar que boas práticas arquitetônicas podem fazer a diferença na discussão dessa problemática que atinge mais 60 milhões de pessoas no mundo todo


Em todo o mundo, o Dia Mundial do Refugiado – comemorado, mundialmente, em 20 de junho - é uma oportunidade para celebrar a força, a coragem, a perseverança e a resiliência das pessoas que foram forçadas a deixar suas casas e seus países por causa de guerras, perseguições, mudanças climáticas, catástrofes naturais e violações de direitos humanos.


FOTO: Embora o foco do projeto do Architects for Society seja as populações que sofrem com eventos climáticos violentos, a ideia pode ser usada em qualquer lugar onde seja necessária moradia digna e de rápida montagem




Mais de 60 milhões de pessoas, metade crianças, fugiram da violência ou da perseguição e estão agora refugiados ou deslocados internamente. Outros 225 milhões são migrantes e deixaram seus países em busca de melhores oportunidades ou, simplesmente, por sobrevivência. Esta não é, contudo, uma crise de números; é uma crise de solidariedade. Quase 90% dos refugiados estão em países em desenvolvimento. Oito países abrigam mais da metade dos refugiados do mundo. Apenas dez países fornecem 75% do orçamento da ONU para o tema.

No Brasil, eventos como queimadas, deslizamentos, vendavais e, principalmente, inundações são responsáveis por milhares de mortes anualmente, além de forçar os residentes das áreas afetadas a se retirarem sem data prevista de retorno. A falta de moradia e o acesso ao mercado de trabalho são os principais desafios enfrentados atualmente pelos refugiados e solicitantes de refúgio que vivem no Brasil. Esta avaliação foi feita pelos próprios refugiados por meio de um Diagnóstico Participativo.


Arquitetura para reconstruir

Os chamados campos de abrigo se transformam em cidades por anos até que as pessoas afetadas possam retornar ou recriar seus locais de moradia. Organizações mundiais como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) estão preocupados em auxiliar arquitetos e empresas a projetar melhores abrigos de emergência. As preocupações mais recorrentes são gerar conforto para os usuários, assim como pensar em elementos que possam ser “modularizados” para facilitar a produção e montagem, que muitas vezes é feita por pessoas que não possuem treinamento adequado.

Boas práticas arquitetônicas podem ser facilmente ilustradas por Shigeru Ban, arquiteto japonês premiado pelo Pritzker 2014 e conhecido pelo seu uso inovador de materiais recicláveis, principalmente papel e papelão, para construções de alta qualidade e abrigos de baixo custo para vítimas de desastres em todo o mundo.

Em 1995 no projeto das Casas “Paper Log” para a cidade de Kobe no Japão, a fundação é constituída por caixas de cerveja que foram doadas e preenchidas por sacos de areia. As paredes são constituídas por tubos de papel. Para o isolamento, uma fita de esponja à prova de água feita com adesivo é colocada entre os tubos de papel das paredes. As unidades são fáceis de desmontar e os materiais podem ser facilmente descartados ou reciclados.

Com esta técnica construtiva também foram construídos em 1999 os abrigos de emergência para o campo de refugiados de Byumba, Ruanda, uma vez que os tubos de papel podem ser fabricados de forma barata e por máquinas pequenas e simples, o potencial em produzir os materiais no local reduz os custos de transporte. No projeto de 2001, o que torna a Casa “Paper Log” da Índia única são sua fundação e telhado. Entulhos de construções destruídas foram utilizados para a base ao invés de caixas de cerveja e depois revestidos por uma pavimentação tradicional de argila. Para o telhado, bambus divididos foram aplicados nos armazenamentos de nervura e peças inteiras de bambu foram utilizadas como vigas de cumeeira.

Já na reconstrução pós-tsunami de Kirinda, Sri Lanka, 2007 o baixo orçamento e a redução do período de construção foram fundamentais. O material principal é um bloco de terra comprimida que está disponível no Sri Lanka, de baixo custo e que não exige mão de obra especializada. O bloco tem uma superfície irregular, de modo que pode ser facilmente interligado e construído como um brinquedo “LEGO”. A Escola Primária Temporária Hualin Chengdu, China, reconstruída após o terremoto de Sichuan, em maio de 2008, teve a colaboração de universidades que durante as férias de verão, cerca de 120 estudantes voluntários japoneses e chineses trabalharam juntos na construção de três edifícios com nove salas de aula cada e foram concluídos em cerca de quarenta dias.


Sob qualquer ângulo, a situação dos refugiados ou desabrigados é inaceitável e evidencia mais do que nunca a necessidade por solidariedade e de um objetivo comum em garantir de forma conjunta que esses seres humanos, deslocados internos e solicitantes de refúgio de todo o mundo, recebam proteção e assistência adequadas, afirmou o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi. “Precisamos fazer mais por essas pessoas. Em um mundo que está em conflito, é necessário determinação e coragem, e não medo”.


Viviane Prado

Arquiteta e Urbanista

 
 
 

Comments


bottom of page