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“Para falar com o povo, o caminho é a rua”, afirma o artista Tom Pina

  • Writer: sasparqbr
    sasparqbr
  • May 25, 2017
  • 4 min read

Para Pina, que ministrará no SASP curso de experimentação gráfica com a técnica do stencil, arte urbana é canal para informar e formar população e artistas de rua “fazem guerrilhas” contra políticas higienistas

Ele é enfático: “pintar uma parede é menos crime do que expulsar uma família de baixo de um viaduto só pra cidade ficar ‘linda’”. Para o artista Tom Pina – que ministrará no SASP o curso Pedra, Papel e Estilete, um laboratório de experimentação gráfica que tem como principal técnica o stencil – a arte de rua auxilia na informação e na resistência do povo contra políticas higienistas e gentrificadoras.

Seu curso, que contará com parte teórica e prática, será estruturado a partir da coleta de elementos visuais encontrados nas ruas de São Paulo - texturas de piso, tampas de bueiros, paredes, diversos tipos de pedras, tijolos, entulhos e padronagens – e alunas e alunos desenvolverão matrizes de stencil que, posteriormente, em sala, serão usadas para a produção de cartazes, lambes, ecobags, camisetas etc.

Nesse entrevista, você pode acompanhar as ideias de Tom Pina sobre arte urbana, resistência dos artistas e de como esse cursos pode ser um importante espaço de experimentação.

Como a técnica do stencil surgiu e como foi sendo resinificada, ao longo da história, pelos artistas de rua? E mais: para você, o que significa, em especial, usar essa técnica na cidade?

O stencil, a grosso modo, existe desde a pré-história. Foi a primeira técnica de impressão de estampas na China antiga. A técnica se espalhou pelo mundo e, no contemporâneo, se popularizou, principalmente, através do movimento punk. A ideia de ter autonomia na confecção e na desconstrução do vestuário, na criação e distribuição de ideias por meio dos zines e cartazes espalhados pela cidade reflete uma crise nas instituições que perdura até hoje. Ao mesmo tempo esse pensamento rebelde já estava sendo desenvolvido em teoria na segunda metade da década de 1960 por Foucault e Derrida, influenciados pelo conceito de “transvalor” de Nietzsche. Depois da revolução estudantil de 1968, quando nasce o que hoje é o “pixo”, o stencil, que já era utilizado como ferramenta de expressão popular, ganha ainda mais força e, com mais pessoas fazendo, é natural que a técnica ganhe novas nuances. Então cresce o stencil também como expressão artística.

Essa técnica representa pra mim, assim como o graffiti, incluindo ai o pixo, uma resistência frente ao governo e ao monopólio dos meios de comunicação. De que outro modo as pessoas que fazem arte de rua teriam liberdade de expressão com o estado e com uma grande parcela da população de forma efetiva? Mesmo hoje, tendo alguma liberdade para diálogo frente a frente, muitas vezes a conversa morre naquela reunião e, quando a expressão é visual, está impressa numa parede no meio da cidade, isso gera um incômodo e ai é perceptível que a liberdade de expressão institucional é uma mentira.

Nesse laboratório que você propõe, com quais experimentações e saberes – ou questionamento sobre esses mesmos saberes – os participantes sairão?

Em todas as aulas teremos discussões pertinentes sobre a arte de rua, como, por exemplo, o processo de periferização no Brasil, políticas de gentrificação, higienistas e como isso se relaciona dentro da história da arte e da arquitetura a partir dos anos 60. A ideia é exatamente apresentar fatos e colocar questionamentos, serão aulas totalmente abertas ao diálogo e podem tomar rumos impensáveis. Depois de cada discussão teremos um exercício prático, que inclui percepção da estética urbana e coleta dessa material de diferentes formas, depois levamos esse material gráfico coletado para sala de aula, desenvolveremos lambes, stencils e adesivos e, então, retornamos esse material à rua fechando um ciclo de experimentos.

Recentemente o prefeito João Dória promoveu um ataque contra muitas manifestações de arte urbana, como o pixo e o grafite. Além disso, algumas ações dele são apontadas como forma de gentrificar e higienizar a cidade. É possível – e, se sim, como – os artistas urbanos fazerem resistência a essas políticas e propor uma nova visão de cidade?

A arte urbana nasceu disso, então o fato de colocar arte da rua já é uma resistência. A arte sempre teve problemas com a mídia de forma geral, mas estamos num momento perigoso que a política e a mídia se fundiram de forma clara. A desinformação e a distorção são ferramentas que criam o ódio, opinião vira argumento e violência vira política. As pessoas estão dispostas a colocar uma limpeza visual, mesmo que falsa, acima de vidas humanas. Então, fazer arte na rua é quase uma guerrilha, tem que ser escondido, se preparar para correr e não apanhar ou ser preso. Esse é o preço de expor uma ideia, porque na TV é caro e ninguém vai te deixar falar, no facebook você só fala com iguais. Então para você falar com o povo o caminho é a rua. O peso de um cartaz, de um discurso, de um pixo, de uma arte na rua é grande, é um perigo para o governo as pessoas se expressarem abertamente. Então, acho que o caminho é a informação, a gente não deve ter espaço para interpretações erradas, as pessoas precisam saber que artista de rua não é bandido. A gente precisa conhecer a história, a história da arte, da arquitetura, do urbanismo. Saber como as pessoas que estão embaixo dos viadutos foram parar lá, e que não é um emprego no Mcdonald`s que vai mudar essa realidade. A arte não é só visual, estética e estática; é conhecimento, é entender o máximo possível o presente e, para isso, a gente tem que espalhar a história. Isso pra mim é hoje mais importante do que produzir arte como obra. É fazer as pessoas entenderem que pintar uma parede é menos crime do que expulsar uma família de baixo de um viaduto só pra cidade ficar “linda”.

O que: Curso Pedra, Papel e Estilete. Laboratório de stencil com elementos urbanos

Onde: Sala de aula do SASP. Rua Araújo, 216, piso intermediário. República. São Paulo.

Quando: 14, 21 e 28 de junho de maio e 5 de julho (às quartas-feiras). Das 19h às 22h30.

Carga horária: 12 horas.

Quanto: 350 reais. (Associados ao SASP têm desconto de 20% nesse valor)

Forma de pagamento: em 3x. (Inscrição é efetuada com deposito bancário da primeira parcela. Depois, o aluno pode efetuar o restante ou parcelar em cartão de crédito/débito.

INSCRICOES ENCERRADAS!

Para saber mais sobre o conteúdos das aulas, preços e forma de pagamento, acesse:http://bit.ly/2qbG3Yz

 
 
 

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