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1º de Maio: Arquitetos e arquitetas são trabalhadores?

  • Editorial SASP
  • May 1, 2017
  • 3 min read

É fato: arquitetos e arquitetas, muitas vezes, não se reconhecem como trabalhadores e trabalhadoras. Ou pior: não se reconhecem como classe também portadora de históricos direitos sociais adquiridos com suor – e sangue – de muitos trabalhadores. A compreensão desse ponto é essencial para promovermos a luta por nossos direitos e para nossa valorização profissional.

Somos formados – seja pela academia, mercado ou mídia – para admirar exclusivamente os star architects e consagrados escritórios como exemplos de força criativa e de prática de boa arquitetura. Não importa que esses mesmos escritórios utilizem seu prestígio, muitas vezes, para explorar os arquitetos; ou que seja possível ser um excelente profissional comprometido com as transformações sociais (e com a população) ou que nosso ofício possa ser um trabalho multidisciplinar e participativo, que envolva arquitetos, sociólogos, engenheiros, funcionários públicos, operários, população, assistentes sociais etc.

Também somos convencidos pelo mercado de trabalho que exigir o cumprimento constitucional da legislação trabalhista não é para “intelectuais como os arquitetos”. O argumento é de que, para nós, é possível estabelecer “outros contratos” - sempre flexíveis, como o PJ e a “sociedade” (com porcentagem e condições irrisórias, estratégia patronal para evitar encargos trabalhistas) que invariavelmente precarizam o profissional. Afinal, podemos ser “autônomos”, “colaboradores” ou “sócios”, mesmo que tenhamos que trabalhar extenuantes jornadas, deixar de receber o piso profissional, lidar com parcas garantias e benefícios sociais e com uma constante insegurança sobre nosso futuro.

Alardeia-nos que o Sindicato, fruto histórico das lutas dos arquitetos e urbanistas, é uma “entidade burocrática” e “do passado” (embora tenha mais de 45 anos de luta e participação nos principais momentos históricos dos arquitetos e, também, do povo brasileiro), que não representa os atuais interesses da categoria, mesmo que tais argumentos sejam usados, justamente, para os interesses daqueles em que seu lucro depende da precarização dos arquitetos. A lógica é simples: trabalhadoras e trabalhadores organizados e ativos em torno de um Sindicato - que tem o poder legal e a legitimidade histórica para representá-los - é um grave risco aos interesses (e bolsos) dos empresários.

Embora varie aqui ou ali os argumentos, o conteúdo é o mesmo: arquitetas e arquitetos não são trabalhadores porque é mais fácil fazê-los pensar que se “distinguem socialmente” de um operário ou atendente de telemarketing, por exemplo, para, assim, explorá-los mais.

Mas trabalho é qualquer atividade física ou intelectual, realizada pelo ser humano, cujo objetivo é fazer, transformar ou obter algo para realização pessoal e desenvolvimento econômico. Construir um banquinho de madeira, escrever uma crítica do último seriado da Netflix, carregar caixas de alface na feira de domingo ou projetar um museu têm em comum isso: é trabalho e pode carregar a criação e o tédio, a miséria e a fortuna, a felicidade e a tortura.

No sistema em que vivemos o trabalho é valor de troca: vendemos nossa força de trabalho para realizar a reprodução social (consumir e produzir; em outras palavras, sobreviver). Nós não somos donos dos meios de produção e trabalho: assim como um metalúrgico não é o dono de uma montadora; assim como a maioria dos arquitetos não é dona de grandes escritórios; embora o sistema jogue com essa “fábula” - tanto com o metalúrgico quanto com o arquiteto - de que um dia, com “empreendedorismo” e “trabalho duro”, nos tornaremos empresários de sucesso e repetiremos a mesma lógica de exploração realizada conosco.

Somos trabalhadores. Sofremos as consequências do sistema ao exercer nosso trabalho – braçal e/ou intelectual - e temos que lutar por melhores condições. Mais ainda: temos que lutar para que a Arquitetura e o Urbanismo seja parte das transformações sociais no nosso país. As cidades, que deveriam ser a celebração da coletividade e da diversidade, estão entregues aos interesses de especuladores e empreiteiras que a transformam em um lucrativo mercado. O déficit habitacional passa dos seis milhões de moradias. A infraestrutura urbana (como escolas, postos de saúde, transporte coletivo, saneamento básico, energia elétrica etc.), a qual todos têm, constitucionalmente, direito - embora não pareça, dado os círculos que frequentamos - ainda é privilégio de poucos.

E, na conjuntura em que vivemos, lutar por nossos direitos é crucial: trabalhadores e trabalhadoras – assim como suas instâncias representativas e de organização - estão sendo atacados pelo governo golpista de Michel Temer em vários flancos.

Ilegítimo e rejeitado por 87% da população [1], Temer aprovou sem dialogar com a população uma reforma da previdência e uma reforma trabalhista que destroem as conquistas de décadas de lutas do povo brasileiro.

Após o sucesso da Greve Geral no dia 28, neste 1˚ de maio, Dia do Trabalhador, o SASP reafirma: arquitetas e arquitetos, somos trabalhadores e trabalhadoras. E, apenas nos reconhecendo como uma categoria de trabalhadores, podemos somar forças para lutar pelos nossos direitos e pela nossa valorização profissional.

Diretoria do SASP

Gestão 2017-2019

 
 
 

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