Ontem, como hoje, os golpistas estão no poder
- Artigo SASP
- Apr 3, 2017
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Dia primeiro de abril de 1964. O sol estava acima das cabeças, seus raios iluminavam as ruas, as fábricas, as casas, as fazendas, os campos. As pessoas iam trabalhar, os médicos atendiam, motoristas de ônibus iam e vinham deixando as pessoas em seus lugares, as crianças rumavam para as escolas, os hospitais estavam cheios. Parecia um dia normal, mas não era. Talvez um tanque no meio da rua, talvez os coturnos castigando o asfalto; algo dizia que não era um dia normal.
Dia trinta e um de agosto de 2016. A noite caía de leve. As últimas friagens do inverno e os prenúncios da primavera já se faziam sentir. As pessoas voltavam para casa em metrôs e ônibus abarrotados. O Palmeiras enfiava três a zero no Botafogo da Paraíba; mais tarde, o Corinthians ficaria empatado com o Fluminense. Tudo pela Copa do Brasil daquele ano. Em Brasília, a primeira presidenta do país, sem que pesasse (ou pese) sobre si nenhuma acusação de corrupção (ou de crime de responsabilidade), sofrera um golpe e tinha sido retirada do cargo para que assumisse o seu vice, até então, Michel Temer. Tudo aconteceu sem maiores percalços. Nada indica uma noite anormal.
Torturas, aposentadoria com mais de setenta anos, perseguição política, cortes na Educação e na Saúde, censura, imprensa conivente, artistas perseguidos, terceirização ilimitada, precarização do serviço público, medo de andar na rua, perseguição a professoras e professores, manifestações reprimidas, enquadramento da mulher dentro de casa, polícia que mais mata no mundo, porrada nos caras que não fazem nada.
A frágil democracia brasileira sempre foi mais formal que efetiva. Entre o Estado Novo e o segundo governo Vargas, se votava para presidente, mas se tratava greve e demanda social como caso de polícia. Após a ditadura militar, massacres como Eldorado dos Carajás, Carandiru, Candelária, Vigário Geral, seguem impunes, com os responsáveis absolvidos pelo judiciário. Desaparecimentos como os de Stuart Angel e Amarildo seguem sem resolução, viaturas policiais arrastaram pelas ruas Claudia da Silva e Gregório Bezerra. A turba fascista aplaudiu.
Ontem, como hoje, os ratos estão no poder. Golpistas de coturno ou de toga e terno, a diferença só saberemos quando houver distanciamento histórico suficiente para julgá-los.
Ontem, como hoje, há resistência; e haverá amanhã mesmo que eles não queiram.

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