Uma falsa crise
- Artigo de Victor Chinaglia
- Jul 27, 2016
- 2 min read
Nos escritórios técnicos públicos de Arquitetura-urbanismo e Engenharia o argumento virou bordão: reduzir custos. Porém, dinheiro que poderia ser aplicado no desenvolvimento das cidades brasileiras é revertido para pagamento de juros aos banqueiros – e quem “paga o pato” é o trabalhador
Foi uma campanha de retrocessos. O governo do Estado propôs apenas o reajuste da inflação nos escritórios técnicos públicos de arquitetura-urbanismo e engenharia. Exemplos disso não faltam: funcionários da CDHU, do Metrô, da Prefeitura e da CETESB enfrentam esse problema.
A justificativa é de que há uma crise econômica, que cortes devem ser feitos e de que o pescoço do trabalhador deve ser oferecido em holocausto para sair dessa situação. Ledo engano. Enquanto utilizam o argumento dessa falsa crise, o governo guarda dinheiro para pagar
juros para banqueiros.
Basta nos atentarmos aos dados. Pagamos cerca de 10% de nosso PIBbruto, segundo previsão para 2016, para amortização dos juros de nossa dívida interna. A dívida total representa 65% do PIB. Os dados são do FMI. A despesa brasileira para essa finalidade perde somente para Grécia e Líbano, países que também adotaram políticas impostas pelo capital financeiro internacional improdutivo. A questão que fica é: a crise em que atravessa o Brasil não terá sido gerada? E, se sim, quem
a produziu?
Há um evidente planejamento de desmonte dos escritórios técnicos públicos de arquitetura-urbanismo, visando a terceirização do setor pelas gerenciadoras. E, para piorar, essas mesmas gerenciadoras,
formada em grande parte pelo capital internacional, aproveitam o campo de trabalho globalizado para fechar postos de trabalho no Brasil e trazer projetos que não condizem com a nossa realidade.
Porém, mesmo com todo esse ciclo perverso comprometendo a arquitetura e o urbanismo brasileiros, os trabalhadores necessitam continuar o enfrentamento. Realizamos 17 dias de greve na Prefeitura.
Sete dias na CETESB. EMTU e o CDHU ficaram em estado de greve por vários dias. Esses foram os primeiros anos de atividade efetiva do SASP em campanhas salariais. Para o ano que vem a agenda de atividades se inicia com a organização coletiva dos arquitetos públicos das estatais.
Fundamental compreendermos que a redução de serviços públicos não é apenas decorrente da bancarrota econômica motivada por supostos desvios aos cofres públicos, que estão sendo devidamente investigados, mas de decisões políticas de redução do papel do Estado.
A luta não é somente pelo emprego e por melhores condições de trabalho dos arquitetos - urbanistas dos escritórios técnicos públicos. É pela defesa intransigente da Arquitetura-Urbanismo e Engenharia
públicas.
Victor Chinaglia
Diretor jurídico do SASP

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