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Existe uma cidade que é a casa grande e outra que é a senzala, afirma Ermínia Maricato

  • Writer: sasparqbr
    sasparqbr
  • May 4, 2016
  • 3 min read

Em palestra organizada pelo SASP e pelo Centro Acadêmico da Uniso, professora critica o patrimonialismo no Brasil e faz sua aposta em uma juventude transformadora: “ela que pode garantir que não iremos parar em um abismo”



O Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (SASP), junto com o Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo da Uniso (Caauus), promoveu, na última quinta-feira (dia 28/04), uma palestra com a arquiteta e urbanista Ermínia Maricato, professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) e professora visitante da Unicamp. Realizado em Sorocaba, interior de São Paulo, o evento reuniu mais de 280 pessoas no auditório do SESC e, após o debate, Maricato lançou na cidade seu novo livro: “Para entender a crise urbana” (Expressão Popular, 2015).


O presidente do SASP, Maurílio Chiaretti, explicou que ações como essas são parte de uma estratégia da entidade de fomentar discussões sobre a cidade, principalmente em um contexto em que a democracia corre risco. “O SASP sempre foi combativo. Lutou contra a ditadura e pela volta da democracia, teve participação importante no processo de Constituinte e batalhou contra o desmantelamento promovido pelo neoliberalismo. Agora nos posicionamos contra a tentativa do golpe. Mas falamos isso não partidariamente, porque o sindicato não é de um partido, mas como uma entidade que volta à suas origens: defender a democracia”.


Ermínia Maricato, uma das responsáveis pela formulação da proposta do Ministério das Cidades, iniciou sua palestra afirmando que, nesse contexto de lutas, é impossível fugir do debate sobre a conjuntura política do país. “Não se trata de lutar por uma presidenta, por um partido, mas de lutar por conquistas civilizatórias”, destacou ela. “Nós temos uma máquina de alienação muito forte no Brasil, que atua por meio da mídia e do consumo, e isso nos conduz a uma sociedade completamente polarizada e a discursos de intolerância. Mas o não me deixa pessimista é a juventude, como dessa plateia, que pode garantir que nós não iremos parar em um abismo”.


A professora também apontou o patrimonialismo no Brasil como uma das formas de produzir a desigualdade social. “No capitalismo central tem desigualdade? Tem! Mas não tem o patrimonialismo que temos aqui”, analisou ela. “Existe uma cidade que é a Casa Grande e uma que é a senzala. E essas firulas de Plano Diretor Estratégico e lei de zoneamento não valem para todo mundo. O Estado está ausente da resolução de conflitos e se forma um Estado paralelo. Há uma mão de obra barata que não ganha o suficiente para fazer parte do mercado e comprar sua casa. Por isso, nós temos ocupação de áreas ambientalmente frágeis que é o que sobra para a classe trabalhadora”. E finalizou: “o Estado brasileiro está privatizado, os cargos estão para os interesses pessoas. Não é mérito que define é a política, mas favores”.


Após a palestra, o presidente do SASP propôs que estudantes, arquitetos, urbanistas, geógrafos, sociólogos e advogados presentes elaborassem uma carta sobre o futuro da cidade e de seus moradores e buscassem comprometer os candidatos à próxima eleição municipal com esse documento.


“Pelo que pudemos conversar, uma proposta coletiva e cidadã poderá acabar com o império do automóvel que tem sido prioridade nas obras públicas, os loteamentos fechados que condenam a cidade a um modelo de expansão horizontal insustentável e os conjuntos habitacionais populares, verdadeiros depósitos de trabalhadores, situados fora da cidade, entre outras questões”, escreveu Maricato, após o encontro. “Esse protagonismo pode mudar o futuro da cidade em direção a um projeto voltado para direitos humanos e sociais, além de observar a preservação dos recursos naturais. Agradeço o carinho que recebi e desejo sucesso na empreitada!”.


 
 
 

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