top of page
Search

Encontro do SASP com Cônsul Cubana

  • Writer: sasparqbr
    sasparqbr
  • Jul 10, 2015
  • 6 min read



cuaba.jpg


O modelo de apoio do governo de Cuba aos projetos de construção, ampliação e reforma de habitações populares – com seus “arquitetos da comunidade” – foi um dos principais temas debatidos no encontro entre o presidente do SASP (Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo), Maurílio Chiareti, , seu diretor Victor Chinaglia e a cônsul Geral de Cuba na Capital paulista, Nelida Hernández Carmona.


O encontro foi realizado a pedido da diretoria do SASP para propor projetos de intercâmbio entre arquitetos brasileiros e cubanos e ocorreu na sede do Consulado Geral da República de Cuba em São Paulo, na semana passada. Também participaram do encontro Viviane Prado, que representará o SASP no encontro da Federação Internacional das Mulheres (FDIM), em Havana, em novembro, e o doutor Ifrahim Miranda León, adido diplomático do consulado cubano.


Os diretores do SASP também solicitaram o encontro para comunicar oficialmente ao Consulado sobre o concurso que o sindicato começa a promover entre arquitetos e estudantes de arquitetura brasileiros para a construção da sede da Colônia de Férias do Sindicato dos Jornalistas profissionais do Estado de São Paulo.

“O concurso será a realizado em parceria entre os dois sindicatos e a premiação do vencedor categoria estudante será uma viagem a Cuba, país que tem uma importante história de arquitetura popular que nós, brasileiros, precisamos conhecer melhor”, afirmou Maurílio.


A cônsul agradeceu a ideia do prêmio e lembrou que Cuba tem também fortes apelos turísticos, valorizados no mundo inteiro, mas ainda pouco conhecidos no Brasil. Ela prometeu fazer gestões com as autoridades do setor, para valorizar e estimular a presença de arquitetos e estudantes brasileiros em terras cubanas.


ARQUITETURA CUBA E BRASIL

As escolas de arquitetura brasileira e a cubana mantiveram uma forte relação de intercâmbio e troca de experiências, nas décadas de 1950 e 1960, mas ela foi gradualmente rompida a partir do golpe civil militar de 1964 no Brasil. “Essa história, aliás, foi brilhantemente relatada por um colega nosso, o arquiteto e urbanista César Dorfman, em seu livro ‘Havana 63’, publicado pela Editora Movimento”, lembrou Chinaglia.

Cuba, após a revolução socialista de 1959, viveu uma ampla experiência de combate ao déficit habitacional que, em poucas décadas, eliminou completamente milhares de sub-habitações e favelas que existiam no país.

“Na década de 1960, Cuba teve a mais desenvolvida indústria de construção de casas e apartamentos das Américas e talvez do mundo. Hoje, as demandas de Cuba são outras, mas a luta para vencer o nosso imenso déficit habitacional é crucial no Brasil”, afirmou Chinaglia. “E a proposta de retomarmos o intercâmbio permitirá que absorvamos um pouco do conhecimento tecnológico desenvolvido em Cuba nessa área”.


ARQUITETOS DA COMUNIDADE

A moderna experiência da arquitetura cubana de apoio às construções e reformas de habitações populares também poderá fornecer “muitos subsídios”, segundo Chiarelli, para projetos semelhantes aos que o SAP planeja implantar em cidades paulistas.

A cônsul cubana e seu adido León relataram a experiência já amplamente consagrada em Cuba dos chamados “arquitetos da comunidade”. Instalados em escritórios equipados, em praticamente todas as cidades cubanas, os arquitetos da comunidade são pagos pelo governo cubano e têm a missão de assessorar, elaborar projetos e acompanhar as obras de projetos de edificação ou reformas, que podem ser solicitados por qualquer cidadão cubano.

“O governo cubano também fornece o material para as obras”, relatou a cônsul. Assim, o morador será responsável apenas pelo pagamento da mão de obra da construção. “Mas como toda a população cubana tem o hábito do trabalho em sistema de mutirão, o custo de novas construções populares ou de reformas é quase zero para o cidadão”, explicou León.

O projeto semelhante que, segundo Chiarelli, o SASP estuda implantar – em parceria com outras associações de arquitetos – em cidades paulistas pretende justamente dar apoio à população de baixa renda em projetos de construção de habitações populares. “As características aqui seriam diferentes, pois os escritórios teriam que atuar também no apoio à regularização dos imóveis e, até, na orientação para a busca de financiamentos habitacionais. Para nós, seria muito importante conhecer o programa dos arquitetos comunitários em Cuba, para sabermos como ele atua nas diferentes realidades geográficas e urbanas uma vez que temos a Lei 11.888, de autoria do saudoso arquiteto Zezéu Ribeiro, que trata da da Assistência Técnica. A lei é de 2008, mas ainda não foi regulamentada e implantada”, avaliou.

Chinaglia afirmou que, ao contrário do que aconteceu com o Mais Médicos, o Brasil tem arquitetos e urbanistas dispostos atuar nessas comunidades mais distantes e carentes. “Mas falta uma política de Estado para o setor. Uma política que remunere os profissionais e trate a cidade como fonte de conhecimento e tecnologia nacional”, afirmou.


MAIS MÉDICOS

A forma de atuação dos arquitetos cubanos é, segundo León, muito semelhante a dos médicos, que ficaram conhecidos no Brasil recentemente através do programa Mais Médicos. Para ele, os médicos e a população cubana têm uma formação estritamente humanista. “O médico cubano é formado com uma concepção diferente. É como um sacerdócio. Temos muitos médicos em Cuba e o atendimento que eles dão à população é direto. Qualquer pessoa que tenha um problema, à hora que for, à noite, bate na porta do médico e é atendido”, relata.

Essa formação humanista, avalia León, é que leva um grande número de médicos cubanos a rodar o mundo para auxiliar países e comunidades que precisam e solicitam auxílio médico, como ocorre no Brasil com o programa Mais Médicos.

“O balanço que fazemos hoje dos médicos cubanos que estão atuando dentro do programa, em todo o Brasil, é muito positivo. Eles têm sido bem acolhidos pela população que está muito agradecida. A maioria da população atendida pelo Mais Médicos nunca antes havia sido consultada por um médico, pois não possui recursos para isso e vivem em locais sem assistência pública”, relatou a cônsul.

Nelida lembra que os médicos cubanos têm atuado nas regiões mais pobres e desassistidas do Brasil, inclusive em aldeias indígenas e povoados longínquos no meio da floresta, além de bairros periféricos de centros urbanos. “É importante lembrar a forma como se deu a participação dos médicos cubanos no programa. Primeiro, foi feito um chamamento aos médicos brasileiros, depois aos médicos brasileiros formados no exterior. Como faltaram inscrições para atender a estas áreas mais difíceis, foi feito um chamamento aos médicos estrangeiros, ao qual um grande número de cubanos atendeu”, explica Nelida.


ÁFRICA E ÉBOLA

León diz que, na África, a atuação dos médicos cubanos também tem sido decisiva para conter a atual epidemia de Ébola, que já matou mais de 10 mil pessoas, em diversos países daquele continente. A epidemia já foi contida em alguns países, como Nigéria, Senegal e Mali, e desacelerada em outros, como Libéria, Guiné e Serra Leoa.

“A ajuda de vários países foi fundamental para deter o ciclo da doença, mas os médicos que realmente tiveram contado direto com os doentes foram os cubanos. A ajuda dos outros países foi basicamente com medicamentos e tecnologia”, relata León. Ele conta o caso de um médico cubano que chegou, diante de uma situação extrema, a carregar nos braços, sem proteção, um garoto contaminado pelo vírus. “O médico adoeceu, foi levado às pressas para a Suíça para se tratar e, uma vez curado, decidiu voltar de novo para a África e continuar seu trabalho”, lembra.



RETRANCA 1

A liberdade das mulheres cubanas


As mulheres cubanas vivem uma relação única de igualdade de gêneros, diferente da situação da maioria das mulheres latino americano e por isso uma representante cubana, Anícia Campos, foi eleita para coordenar na América Latina, nos próximos dois anos, a Federação Internacional das Mulheres (Fidim).

Essa avaliação sobre a eleição de Anícia, que ocorreu no mês passado em El Salvador, foi relatada à cônsul Nelida Hernández Carmona por Viviane Prado, que representará o SASP no encontro da Fidim, em Havana, em novembro.

“Cuba avançou muito nesta questão e os relatos, experiências e informes apresentados nos últimos encontros da Fidim deixam claro a grande diferença da situação das mulheres em Cuba. Esta foi uma das razões pela qual decidiu-se fazer a comemoração em Cuba dos 70 anos da Fidim”, informou Anícia.



cuba 2.jpg



RETRANCA 2

Pelo fim do embargo

O fim do bloqueio econômico, estabelecido pelo governo dos Estados Unidos na década de 1960, é uma das principais batalhas diplomáticas que Cuba trava hoje e o apoio da população e de entidades de classe brasileiras ajudará a sensibilizar a comunidade internacional sobre a questão. A partir desta avaliação, a cônsul Nelida Hernández Carmona pediu, durante o encontro, apoio do SASP nas gestões do governo cubano para o fim do bloqueio.

Em dezembro do ano passado, Estados Unidos e Cuba reataram as relações diplomáticas que haviam sido rompidas unilateralmente pelos Estados Unidos há 53 anos. No entanto o bloqueio foi mantido, embora os dois países mantenham negociações para encerrá-lo, mas sem nenhuma previsão de data.

“O reatamento das relações foi um avanço, sem dúvidas. Cuba em uma situação melhor, na verdade ‘menos mal’ do que antes, mas o bloqueio nos causa sérias dificuldades econômicas. O comércio internacional e todos os ramos da economia – e da saúde, inclusive – têm sido duramente atingidos pelo bloqueio”, afirmou Nelida.


SOCIALISMO

Nelida afirmou que Cuba tem agido com “a melhor disposição” para o reatamento completo das relações diplomáticas. “Temos demonstrado isso claramente em nossas ações, mas não vamos mudar o socialismo. Somos dialéticos e como dialéticos estamos tomando medidas dentro da nossa economia para mudar, para melhorar e viver este novo momento. Mas nossas mudanças ocorrem dentro do socialismo”, garantiu ela.

A cônsul relatou que existem, no próprio Estados Unidos, muitos empresários com intenções já definidas de realizar comércio com Cuba. “Mas isso ainda não é possível porque o bloqueio não foi levantado”, disse.

 
 
 

Comments


bottom of page