Encontro Estadual debate os desafios da categoria
- sasparqbr
- Nov 9, 2014
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Encontro Estadual dos Arquitetos debate a fragmentação do trabalho e os desafios da categoria

A fragmentação do mercado de trabalho e a valorização da profissão foram os temas do Encontro Estadual dos Arquitetos. O evento aconteceu entre os dias 31 de outubro e 1º de novembro no Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo, e foi organizado pelo SASP - Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo. Cerca de 200 pessoas prestigiaram o encontro, entre arquitetos, professores e estudantes de arquitetura e urbanismo. O encontro concluiu uma série de eventos regionais promovido nos últimos meses pelo SASP. Ao todo foram sete cidades: Santos, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Piracicaba, Campinas, Bauru e Santo André. Os eventos regionais e o encontro estadual são parte do compromisso da nova gestão do sindicato para aumentar o diálogo e a união da categoria. "Queremos com isso criar um espaço onde o arquiteto possa participar ativamente do sindicato. Nos debates que realizamos nos encontros regionais, levantamos como principal desafio a valorização da arquitetura e o urbanismo, não só o profissional, mas também a sua função na vida das pessoas", afirmou o presidente o SASP, Maurílio Ribeiro Chiaretti, que abriu a mesa de debate. Além de Chiaretti, participaram do debate Afonso Celso Bueno Monteiro, presidente do CAU-SP (Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo), Jeferson Salazar, presidente da FNA (Federação Nacional dos Arquitetos) e Vitor Halfen estudante de arquitetura e urbanismo e presidente da Fenea (Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura). O economista e presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann e a professora do IAU-USP (Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos) Lúcia Shimbo, foram os palestrantes da abertura do encontro. Palestras Em sua palestra, Márcio Pochmann contextualizou historicamente como a precarização do trabalho, incluindo a profissão dos arquitetos, se deu nas últimas décadas em todo o mundo. Segundo ele, duas forças colaboram para a fragmentação do mundo do trabalho: o neoliberalismo e a pós modernidade. "Vivemos o rebaixamento das relações de trabalho. O capitalismo hoje não assegura e nem garante o pleno emprego, portanto estamos vivendo numa sociedade em que o desemprego é estrutural. Isso gera descrédito das instituições sindicais e dos partidos políticos, que não mais vocaliza os interesses que estão veiculados ao trabalho", pontuou. Já as novas tecnologias, segundo Pochmann, também colaboram com a precarização do trabalho quando há uma extensão da jornada. "Tudo isso vem gerando novas doenças profissionais. É inacreditável o uso de antidepressivos. Pesquisas recentes mostram o crescimento de doenças veiculadas ao uso de drogas. Esse mal estar não tem sido vocalizado pelas instituições representativas", criticou. Outro ponto importante abordado pelo economista é a falta da tradição da democracia na história brasileira, além da influência do poder econômico nas campanhas políticas, o que leva ao sentimento de não representatividade. "Temos no país o monopólio da representação, quem é eleito passa a representar os interesses de quem o financiou. Nós estamos no limite da democracia brasileira, portanto a reforma política é a mãe das reformas que o Brasil precisa fazer", finalizou. Ainda no contexto de precarização do trabalho, a professora da USP São Carlos, Lúcia Shimbo, expôs a sua tese de doutorado, na qual faz uma análise sobre como o programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, afeta o mercado de construção na região de São Carlos e Ribeirão Preto, ambas cidades do interior de São Paulo e onde está inserido o arquiteto nessa expansão. "Temos uma produção em escala, padronizada e que esquece o potencial da atividade [do arquiteto]. O profissional contratado muitas vezes é também precarizado. As construtoras promoveram o deslocamento do arquiteto na produção da habitação", argumentou. Ainda segundo pesquisas da professora, o que se tem encontrado nas obras do programa do governo federal são bons projetos executivos em detrimento da presença de profissionais da arquitetura. "A gente consegue contar nos dedos os projetos que tenham uma inserção urbana adequada. Como essas empresas conseguiram juntar canteiro de obras e desenho mas abdicando de tudo aquilo que nós arquitetos consideraríamos boa arquitetura?", provocou. Após a palestra, os arquitetos presentes puderam comentar e fazer perguntas sobre os temas discutidos. A possibilidade de reflexão sobre os principais desafios do mercado de trabalho foi bastante ressaltada pelos participantes. "O encontro é uma oportunidade para nos atualizarmos e também nos faz questionar sobre os nossos direitos e o que que estão fazendo com a nossa profissão. Essa reprodução em massa promove a banalização da profissão e os projetos têm pouca qualidade, apesar de terem excelentes projetos executivos", comentou o arquiteto Reges Vasconcelos. Durante o evento, muitos arquitetos se sentiram estimulados a mudar a realidade precária do mundo do trabalho. "As falas dos dois palestrantes foram enriquecedoras e nos deram uma visão muito clara do quanto a gente precisa avançar. Sobre o sucateamento da profissão, só me faz pensar o que eu posso fazer para contribuir com a categoria", afirmou Hermenegínio Martins de Souza, estudante do 3º ano de arquitetura e urbanismo. Encerrando a noite de palestras, houve uma confraternização aberta a todos.

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